Thiago de Mello
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
A vida verdadeira
A vida verdadeira
A vida verdadeira
Pois aqui está a
minha vida.
Pronta para ser
usada.
Vida que não
guarda
nem se esquiva,
assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que
vale
a pena e o preço
do amor
Ainda que o gesto
me doa,
não encolho a mão:
avanço
levando um ramo de
sol.
Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite
mais fria,
a vida que vai
comigo
é fogo:
está sempre acesa.
Vem da terra dos
barrancos
jeito
doce e
violento
da minha vida: esse
gosto
da água negra
transparente.
A vida vai no meu
peito,
mas é quem vai me
levando:
tição ardente
velando,
girassol na escuridão.
Carrego um grito
que cresce
Cada vez mais na
garganta,
cravando seu travo
triste
na verdade do meu
canto.
Canto molhado e
barrento
de menino do
Amazonas
que viu a vida
crescer
nos centro da terra
firme.
Que sabe a vinda da
chuva
pelo estremecer dos
verdes
e sabe ler os
recados
que chegam na asa
do vento.
Mas sabe também o
tempo
da febre e o gosto
da fome.
Nas águas da minha
infância
perdi o medo entre
os rebojos.
Por isso avanço
cantando
Estou no centro do
rio
estou no meio da
praça.
Piso firme no meu
chão
sei que estou no
meu lugar,
como a panela no
fogo
e a estrela na
escuridão.
O que passou não
conta ?, indagarão
as bocas
desprovidas.
Não deixa de valer
nunca.
que passou ensina
com sua garra e seu
mel.
Por isso é que
agora vou assim
no meu caminho.
Publicamente andando
Não, não tenho
caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de
caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me
ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos vão comigo.
Pois já não vou
mais sozinho.
Aqui tenho a minha
vida:
feita à imagem do
menino
que continua
varando
os campos gerais
e que reparte o seu
canto
como o seu avô
repartia o cacau
e fazia da colheita
uma ilha do bom
socorro.
Feita à imagem do
menino
mas a semelhança
do homem:
com tudo que ele
tem de primavera
de valente esperança
e rebeldia.
Vida, casa
encantada,
onde eu moro e mora
em mim,
te quero assim
verdadeira
cheirando a manga e
jasmim.
Que me sejas
deslumbrada
como ternura de moça
rolando sobre o
capim.
Vida, toalha limpa
vida posta na mesa,
vida brasa
vigilante
vida pedra e espuma
alçapão de
amapolas,
sol dentro do mar,
estrume e rosa do
amor:
a vida.
Há que merecê-la
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